sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Pequenez

Nunca pensei que a experiência que o passar dos anos traz fosse tão grandiosa e capaz de fazer com que conclusões sobre alguns fatos que cotidianamente vivemos sejam percebidos de tal forma que causam mudanças em nossa forma de agir. Um desses detalhes que por muitas vezes passei e nunca anteriormente havia reparado foi como o mundo em que vivemos é pequeno. Quando digo pequeno quero dizer realmente muito, muito pequeno. Eram tantas as que eu denominava coincidências que colidiam contra mim, atingindo diretamente minha cara que passei a criar relações, redes, interligações com esses fatos e por fim descobri a pequeneza do mundo. Fiquei chocado. Sempre discorreram com riqueza de detalhes sobre o tamanho, a grandiosidade, a protuberância e a lonjura desse terreno que habitamos. Porém os fatos, os pequenos detalhes estão na nossa frente e ninguém vê. Obrigam-nos a pensar que o outro lado da rua é distante demais para tentarmos chegar e o caminho até lá, que se resume em atravessar a rua, é perigoso e nebuloso. Imploram para que não olhemos para além do muro que nos cerca pois a vertigem pode causar acidentes. É tudo mentira! Este espaço habitável não passa de um grão de areia, esta esfera não é maior que uma bolinha de gude. Fico surpreso em saber que muitas pessoas talvez por ignorância não tentem desbravar e entender melhor estes mixos espaços de terras que servem de apoio para nossos pés. E assim, com todo esse conhecimento posso afirmar com convicção que o único caminho realmente grande, intransponível, que venho percorrendo por vidas e ainda não consegui chegar ao destino é o caminho para conquistar o seu coração. Mesmo assim eu não desisto, vou firme até o fim...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Manar

Chega um tempo que cimentam nossos pés. Mesmo sabendo que já estava em um lamaçal de sentimentos, em um pântano de confusões, ainda assim tentava parecer algo que não era. Demonstrava um sentimento que não tinha. Feito um objeto inanimado preciso ser removido para uma restauração, preciso passar um tempo retido e trancafiado para que seja refeita a arte que existe em mim, para que minha beleza seja novamente reconhecida, e dessa forma possa ser exposto a sociedade outra vez, agora como um objeto reformado e tal qual uma obra-prima estar preparado para as críticas, os elogios, a indiferença e o asco que as escolhas trazem. Esse processo não é simples e requer prática. Primeiro devo tirar do coração todo sentimento que me mata aos poucos, vou limpar o peito de todas as frustrações que subtraíram metade das minhas forças. Limitar meu campo de devaneios será fundamental para me deixar mais perto da terra e não ficar tão machucado quando cair. Asas eu não preciso mais. Alguns toques de mudanças e readaptações ainda serão necessários. Depois disso tudo retirado de mim e devidamente colocado em um recipiente forte que suporte tal procedimento vamos liquidificar tudo com o sangue doente que de mim foi extraído, até a última gota. Enquanto isso do lado esquerdo deitado espera meu corpo sucumbido. Após o processo de liquidificação será preciso coar todo o engodo originário para separar a parte podre, doente, corrompida, putrefata e infeto para que de forma intravenosa seja devolvido apenas a parte boa e salutar para o meu corpo, por ora morto, que aguarda para conferir o resultado. Devo admitir que antes de devolver para dentro de mim o novo líquido que obtive salpiquei com a única coisa que me causou algo diferente, o amor. Assumo que talvez tenha exagerado na quantidade que misturei, contudo foi o amor que me fez viver momentos diferentes, foi ele também que me fez sentir algo indescritível e todavia quase me matado. Apenas deixei de lado componentes como nomes, lembranças e sonhos que o amor traz consigo, inserindo assim apenas o verdadeiro elixir. Dessa forma o processo foi finalizado com sucesso e caso meu corpo modificado não rejeite sua nova configuração e supere o período de convalescença vamos tentar renascer. E quem sabe ainda em um sonho inconsciente e distante não poder te encontrar novamente...

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Talhar

Vivo com a intensidade de uma explosão cósmica. Sofro de ansiedade. Entrego-me antes mesmo da primeira troca de olhares. Sofro por antecedência. Confundo sentimentos. Viajo em minhas alucinações tão pessoais que tentar explicá-las seria perder tempo que cada vez mais acredito estar correndo contra mim. Eu me apaixono de uma maneira exacerba. Eu sinto a profundidade de cada verso do poeta apaixonado. Eu me angustio com a possibilidade da perda antes mesmo dela estar consumada. Eu sofro hiperbolicamente. Esse é o meu processo. Muitos dizem que eu preciso mudar e deixar de ser tão dramático, bobo, babaca, idiota... Rótulos não faltam. Porém o que eles não entendem é que para mudar processos é preciso grandes alterações; para modificações são necessárias novas teorias, que serão transformadas em hipótese e posteriormente em ações que não pertencem ao meu modus vivendi. Estas são tão divergentes a mim, são imiscíveis a minha personalidade, ao meu mais profundo ser. Dessa forma é impossível mudar. A não ser por um caminho. Para mudar de tal forma é preciso morrer e renascer. Igual a antiga história da fênix. Porém a ave passa por todo esse processo quando já esta velha, depois que viveu mais uma vida, e se encontra no final deste ciclo. Para ela, poder arder em chamas é mais confortador que uma cama quente em noite fria. Saber que do meio das cinzas um novo ser vai brotar com formosas penas e talvez mais força e conhecimento é formidável. Diferente deste caso quando precisamos passar por esse episódio no meio da nossa vida, ainda jovens, quando nem sequer conhecimento, experiência e entendimento de pelo menos parte disso tudo possuímos é no mínimo cruel. Ter de deixar de forma consciente e indesejada pessoas que amamos, sonhos que imaginamos e sentimentos que nutrimos potencializa de forma progressiva todos os aspectos. Por fim não entendemos o porquê disso tudo e mesmo assim vamos seguindo a mesma direção da corrente. Onde vamos desaguar nem sequer imaginamos. Espero ao atingir o ponto final deste caminho, este novo ser, tal como o rio quando chega a seu efluente, me tornar algo maior, quem sabe belo e formoso como uma catarata, me transformando assim em algo que seja digno de admiração, onde as pessoas possam parar e ter momentos de alegria e boas recordações. E o mais importante, que minhas angústias, incertezas e dores que deram nascente a todo esse turbilhão possam permanecer no fundo do leito do rio, como aquele valioso tesouro ainda não encontrado dentro da velha nau. Pois se um dia eu encontrá-lo vou poder abrir o baú para recordar e entender que para sentimentos como este não existe fim, nem nesta, nem na próxima e nem em nenhuma vida.

domingo, 4 de setembro de 2011

Póstuma

Eu poderia ser a pessoas mais ruim e rancorosa do mundo. Desejaria que você encontrasse em alguém o mesmo amor que eu encontrei em ti. E que depois disso você tivesse que perdê-lo assim como eu tenho que te perder. Talvez dessa forma você perceberia e sentiria o tamanho e a grandeza da dor que estou sentindo e enfrentando nos últimos tempos, pois, mesmo você dizendo que sim não consigo perceber que para você seja difícil olhar para mim e dizer não. Realmente poderia querer que isso acontecesse contigo se não fosse a minha alma que morasse nesse corpo já surado. Acredito que o verdadeiro amor, este que sinto por você, seja capaz de modificar quase tudo ao redor. Ele só não consegue modificar a si mesmo, e dessa forma quem o trás dentro do peito. Quem realmente ama sofre. Quem realmente ama não se importa com o sofrimento, desde que esse seja emanado por você. Por esses motivos já me acostumei com o sofrimento e, com o perdão da retórica, desejo com todas as minhas forças que você jamais encontre em alguém o amor que eu pude encontrar em ti. Desejo isso, mesmo parecendo cruel, porque me preocupo contigo. Na verdade eu simplesmente te amo. E devido a isso não gostaria que você sofresse e passasse pelo que venho enfrentando devido ao amor. Concluo assim que o amor é um sentimento único. Um sentimento antagônico. É um sentimento eterno. Quem o possui sempre o possuirá. Para mim só me resta guardá-lo em um lugar que seja confortável e que possa encontrá-lo sempre quando quiser te desejar bem. Poderá passar séculos e o que sinto por você viverá... Eu te amo. Eu sempre te amei. Eu sempre vou te amar...

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Janicípite

Não sei ao certo como começar escrever tudo que estou sentindo. Tenho tantas dúvidas, sigo com tantas incertezas, e permaneço angustiado. É certo que em mim tristeza exala inspiração e essa inspiração que também posso chamar de pensamentos se resume em você. Outrora fiz uma promessa a mim mesmo. Depois de tanto sofrer, chorar e lutar por um sentimento que não era mais meu e resultou graves ferimentos, não aqueles comuns que com cuidados e talvez suturas se recuperam a ponto de nada aparentar, mas sim aqueles que te deixam marcados eternamente, te deixam cicatrizes profundas, que quebram a alma, eu prometi nunca mais deixar isso acontecer comigo. Porém eu sou fraco. Fui muito humano. Me entreguei. Assim o destino me pregando uma peça postou você, do meu lado, em meu campo de visão e eu não parei de olhar. Achei que minha timidez dessa vez fosse me ser útil, porém você me surpreendeu e eu comemorando me encantei. Alguma coisa diferente aconteceu. E aconteceu para valer. Mexeu comigo. Sei que tenho um defeito muito grave que é se entregar de maneira instantânea. Sofro com isso, pois, ao mesmo tempo que preciso de você eu te vejo distanciando. Por mais que tente eu não consigo explicar essa necessidade, esse sentimento que brotou como semente em solo fértil. Preciso estar perto, te sentir, te abraçar... Qualquer pensamento maroto que passa pela minha cabeça é capaz de me abalar, imagina então a possibilidade real de te perder. Fico sem chão, deixo de dormir, sofro. Estou sofrendo. Me sinto incapaz de reagir, tal qual uma presa sangrando nas garras de seu predador. Sinto apenas vontade de sucumbir. Imaginar-me sem você é como tentar respirar em ambiente sem oxigênio. Confesso que já me sentia parte da turma, quem sabe até um quase membro da família. Estava enganado? Não sei. São coisas tão difíceis de explicar, no meu caso de entender, que é mais fácil justificar dois e dois serem sete. Eu só espero e desejo com o máximo de força que eu posso juntar que isto não seja um fim, que isso não seja um epitáfio para esse sentimento e esse amor que ainda sinto crescer dentro de mim por ti...

domingo, 31 de julho de 2011

Quase

Ainda pior que a convicção do não, é a incerteza do talvez e a desilusão de um quase! É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata. Traz tudo que poderia ter sido e não foi. Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono. Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna? A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e na frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença do "bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor. Mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio-termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza. O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Você

Posso imaginar o quão difícil é para as pessoas comuns entenderem um pouco de nós artistas. Vivemos em um universo paralelo sim! Em uma sociedade exclusivamente nossa. Habitamos um mundo, uma esfera onde sentimentos borbulham, matam e revivem dentro de nós com intensidade tal qual uma explosão nuclear, atômica quiçá. Não a toa o lendário Pierrot me inspira tanto. Ele é o personagem que representa e ilustra o mais sublime e puro espírito artístico, sentimento esse que nos move. Talvez se em você existir um grama que seja do nosso sangue burlesco você já tenha entendido o que quero dizer. Falo isso tudo pois, para escrever um texto como esse é preciso inspiração. E justifico-me dizendo que você é a inspiração desse mote. Esses escritos são para você. Lembro-me que certa vez, logo no começo, você descobriu que eu tinha alguns hábitos diferentes dos comuns, um certo dom, se é que assim posso chamar o hábito de utilizar palavras que muitos não usam em nosso cotidiano, uma forma de expor esse emaranhado de letras de maneira poética, se me permitem dizer que isso que escrevo é poesia. Você se empolgou com a idéia. E te entendo perfeitamente pois eu no seu lugar também agiria assim. E seu desejo instantaneamente se materializou em suaves notas sonoras, essas que ainda me pego ouvindo, e tão espontaneamente me disse: escreva sobre mim. Juro que tentei. Juro que me cobrava. Juro que fui me apaixonando e me perdi. Me perdi de tal forma que quando me encontrei já estava sofrendo por não ter você perto de mim, sofrendo por te ver cada vez mais distante, em vários rostos, sofrendo por lembrar do seu perfume, e entender que seu cheiro ainda me fere... Ironicamente aquela inspiração que procurei incansavelmente para te exaltar, para nos celebrar, encontrei anexa ao meu sofrimento. Seu texto estava pronto. Poderia eu ter escrito sobre como te amei, sobre como pensava em ti, sobre como vislumbrava um futuro nosso. Sobre tanta coisa nossa, sobre tudo. E aqui estou, escrevendo sobre o que sobrou, sobre quase nada. Posso contar nos dedos de uma mão coisas que você me deixou, como por exemplo, uma foto mal tirada, alguns números de telefone que insisto em não esquecer na esperança que eles apareçam em meu telefone, várias lembranças, algumas vontades e dor... Minto para mim dizendo que não penso em você, na esperança quem sabe de acreditar. E desejo. Desejo com toda minha força um dia poder te abraçar novamente e mesmo sabendo que essa história não é como um conto mantenho a fraca chama da esperança acesa. Enfim, você, como havia outrora pedido, aqui está o meu texto. Para você. Que infelizmente nem se despediu de mim...

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Manumitir

O tempo tem passado descontroladamente. Não sei ao certo o motivo mas tenho percebido ele mais arredio, ora correndo ora se arrastando, a seu bel prazer. Se não isso, penso que meu relógio vital e até mesmo o biológico estão desregulados. O que sei com certeza é que em outros tempos, não muito distante, o tempo mano velho realmente era meu companheiro com quem podia contar sempre. Porém hoje ele está diferente, mudado, e por vezes possui até requintes de crueldade. Tenho sofrido com esse parceiro de outras jornadas. Ele tem me causado angústias que não consigo superar. Muitos me dizem que devo ter calma e paciência pois o tempo vai me trazer respostas. Quando escuto isso me sinto ainda pior, pois, quem isso me diz não sabe quão instável segue meu relacionamento com ele, o tempo. Não creio que ainda trará muito de bom porque já me trouxe tantas coisas boas e por isso acho que meu crédito com ele já se esgotou. Por sinal, muito do que me trouxe foi exatamente ele quem levou. Me presenteou com dias maravilhosos, aqueles que por mais que não tenhamos a menor intenção de lembrar eles acabam brotando em nossas lembranças como água na fonte, singelos, simples e marcantes. E ele levou. O tempo também me presentou com pessoas maravilhosas, e mais uma vez, sem eu imaginar que levaria de mim, levou, cruelmente. Nem sequer havia aprendido o necessário e nem ao menos aproveitado como deveria pessoas que tanto amei. Me trouxe amores que acreditei seriam para o resto de minha vida e como de costume também levou, deixando comigo tamanho sofrimento que não consigo descrever, apenas eu sei o que sinto. São essas algumas das coisas que me trouxe e me levou, e como disse anteriormente, ele, o tempo, vem se tornando cada vez mais cruel. E mesmo não restando muita coisa ainda tenta levar o pouco que sobrou. Não quero ficar sem minhas memórias e sem meus sonhos... São minhas riquezas! Quero me libertar das garras desse ser pois o que guardo comigo ainda é o que me mantem.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Destarte

Hoje é um dia triste. Não triste como outros dias que já se passaram na minha vida. Mais um dia triste que me faz filosofar. Desfiz-me de uma das minhas mais antigas lembranças. Talvez a lembrança que me levasse mais próximo a Deus. Lembrança esta desfeita materialmente mas que ficará infinitamente marcada em minha memória, inesquecível, intocada como uma pérola ainda dentro de uma ostra, e inoxidável como ouro. Como já disseram em outra ocasião desfazer-se das coisas materiais da vida só potencializa o valor emocional que estas trazem para cada um de nós. E assim é a vida. Mutável. Nesse caminho inexorável que só pode desaguar em um leito eterno as coisas mudam. Não há como ser diferente, o que muda são os motivos que nos faz passar nos essas mudanças. Por isso hoje meus cadarços já não permanecem amarrados como ontem, preciso constantemente amarrá-los. Tudo se altera. E eu estou me alterando. Da mesma forma que a água que ferve no fogo nesse momento passará pelo seco pó do café e se transformará em minha bebida saborosa, aromática e quente, da mesma forma que a lagarta se desfaz de seu casulo para voar como uma formosa borboleta, como os filhotes das aves deixam as cascas de seus ovos no ninho para alcançar a imensidão do céu eu estou seguindo o caminho natural, as regras divinas ou as leis científicas e também mudando. Deixei coisas para trás que não voltarão jamais. Entrando em uma nova era. Conhecendo novos caminhos. Aprendendo a viver formas diferentes de vida. Deixando de amar o que ontem era minha razão de seguir em frente. Começando a amar coisas que ainda não havia pensado que poderia ser amada. Evoluindo...

quinta-feira, 31 de março de 2011

Mortificação

Fui uma pessoa feliz. Não há como dizer o contrário. Senti o prazer de poder descrever o indescritível. Esse fluxo que atinge cada parte de seu corpo e te transforma, te motiva, te engrandece, te eleva. A alegria passou por mim. Já me senti tocado por ela e confesso não ter sido apenas uma vez. Hoje percebo que a felicidade é como um cavalo de fino sangue que passa selado por nós uma vez na vida e quem tem a astúcia de montá-lo pode entender o prazer de galopá-lo, o frescor da brisa que toca nosso rosto e desfaz o cabelo. Posso dizer que fui um ser de sorte pois esse garanhão passou por mim em duas ocasiões e pude domá-lo, por um tempo, ambas as vezes. O problema dele é ser por demais arredio e nos surpreender. Por incompetência acabei caindo em um pântano de angústias, incertezas, abandono, sofrimento, dor e solidão. O meu cavalo se foi. Eu fiquei, abandonado e sujo por esse engodo que hoje não consigo limpar de mim. Agora estou tão longe de casa. Não sei o caminho de volta. Abandonado, talvez esquecido em um mundo só meu. Chorei e choro tanto que minhas lágrimas secaram. Elas não escorrem pelo meu rosto para limpar um pouco do barro ou matar minha sede. Também por isso já não tenho mais motivos para sorrir pois a única consequência que ele me trás é marcar ainda mais meu rosto sujo com novas rugas que insistem em brotar. Assim o que me consola é o tempo, pois ele diferente de meus cavalos é totalmente indomado e passa inescrupuloso por mim. Ele me mostra um passado alentador e pela frente uma certeza, o fim. Só desejo que essa época não tarde a chegar e quando estiver em tempo que meus demônios angelicais alados cheguem em formosos cavalos com pelos sedosos e crinas lisas esvoaçantes para que antes de ser jogado no abismo da eternidade eu possa sentir pela última vez o prazer de um galopar como outrora tive em uma época feliz.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Viandar

O acaso me intriga. Como poderia imaginar que aquela noite tornaria-se tão inesquecível para mim. Ela começou como uma qualquer. Imaginava muitas coisas porém minha intuição que raramente falha aquela vez me enganou. Não posso dizer que não sonhava com um acontecimento especial mais era apenas uma noite como outra qualquer. Talvez a bebida tenha acelerado minha forma poética de ver as coisas, talvez meu estado espiritual abalado devido a falta que ainda sentia do meu amor também interferia em mim. Talvez nem a eterna boa vontade de meus amigos e a paciência transcendental destes fosse capaz de me suportar. Foi nesse estado que cheguei lá. As luzes me encantavam. Elas me levaram a uma dimensão onde cores das mais variadas atingiam minha retina com tal força que era capaz de causar espasmos em cada músculo de meu corpo. Não sentia mais nada. Flutuava. Voava. Dançava. Tudo muito intensamente. E loucamente desejava mais a cada segundo que passava... e passou. Tão rápido como um flash seguido por uma fotografia que marca pela eternidade um momento. Um momento que admiro até hoje. Foi rápido volto a dizer e mesmo assim me recordo com detalhes de tudo. Um rosto. Uma voz. Um carinho. Muito desejo. Sonhei acordado, tudo que sentia antes foi esquecido, perdido na batida de mais uma música como um texto escrito a lápis se transformando em pó depois que uma borracha passa por cima deste. Senti ser tocado mais uma vez pelo amor, que outrora me deixou tão repentinamente como chegou. Prazer, o dia acabou e começou com essa definição. Sofri mais uma vez por querer ter quem nem ao menos se lembra que fiz parte daquela foto, daquela noite, daquele momento! Hoje queria apenas esquecer a luz dos teus olhos, porque assim eu não sentiria saudade deles. Queria esquecer o tom da sua voz, o seu jeito de falar, esse sorriso lindo que só você tem. Queria tanto, mais não posso, pois o que sinto por ti é tão forte, impossível de esquecer, mais uma coisa é certa, sem você não sei viver. E continuo a esperar, quem sabe você voltar, lembrar ou pelo menos me ligar...

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Quimera

Certa vez me disseram que o mais triste de uma despedida é a incerteza de uma volta. Eu naquela época pude acreditar. Pude pensar e hoje depois de alguem tempo posso discordar, não totalmente, mais em grande parte desta afirmação. Quando ainda não se passou por nenhuma despedia não temos a noção exata das dores, dúvidas, sofrimentos e agústias que esta nos trás. Somente quem passa por isso é que entende as aflições mil que mergulhamos. Eu já pude passar por diferentes formas de despedidas. Uma delas era aquela que me trazia a certeza de novamente te ver, tudo que sofriamos resumia-se em tentar saber qual o melhor momento para isso, e da forma como viviamos era ter a certeza que amanha seria perfeito, mais uma vez, um ao lado do outro. Vivemos tempos assim... Porém esse tempo findou. Eu particularmente passei a encarar as nossas despedidas como um recomeço. Sei que é contraditório mas era o sentimento que me invadia a cada ocasião dessa. Te via indo com a esperança, mesmo que no meu mais profundo íntimo, de que tudo pudesse voltar a ser como foi, onde teriamos alegria, felicidade, brincadeiras que só a gente entende. Passei a crer que para estar junto não precisaria estar perto, pensava mais em ti do que em mim. Sofri. Mais ainda sofreria mais quando passei forçadamente a entender nossa próxima despedida como o fim. O fim. Este é o termo mais perfeito e singelo para designar tudo que foi esta despedida. Banhado em muito desespero fui vencido por formas desumanas de prazer. Fui suplantado por compostos naturais, talvez até químicos que você escolheu. Fiquei desconsolado com meu coração partido e por vezes ainda me pego procurando pedaços na tentativa de reconstrui-lo. Fracasso sempre pois nunca encontro esses poucos pedaços vitais que me restam, uma vez que se foram com você. Talvez estejam eles jogados em uma caixa velha onde você tenha algumas relíquias que fizeram parte de sua vida, um pensamento esperançoso de que fiz parte dela e marquei a ponto de ser relembrado mesmo esquecido no fundo de uma caixa velha. Ou talvez ainda tenha significado pra ti nada mais que um velha peça de um quebra cabeça perdido e o fim destes pedaços você nem saiba ou se desfez deles de forma consciente para nunca mais recordar-se de mim... E mesmo depois de tantas despedidas não descordo totalmente da frase com que comecei este texto por um único motivo: eu ainda te encontro de uma maniera muito pessoal, você ainda frequenta meus pensamentos, lembro de nós sorrindo, ainda me pego olhando dentro de seus olhos, eu ainda te vejo em meus sonhos, e neles ainda somos felizes...