quinta-feira, 30 de novembro de 2017

Janela

A noite é fria. Estou como costumeiramente fico, sozinho em casa. Nenhuma companhia. Nenhum barulho. Meus únicos aliados são os diversos travesseiros que estão espalhados pela minha cama e os dois que apoiam minha cabeça para formarem um ângulo perfeito para o meu vício da leitura. Estou confortavelmente encasulado em meu cobertor. O movimento repetitivo de meus olhos da esquerda para direita em ritmo frenético é quase automático. Termino de ler mais uma vez meu autor preferido, Álvares de Azevedo. Dessa vez devorei Noite na Taverna em dois dias. Eu sempre me surpreendo com cada nova leitura. Acho encantador a forma que ele descreve todo o ambiente que envolve a história. Os personagens são tão fascinantes que consigo me envolver com eles, posso dizer que são meus amigos. Por vezes, assumo que na maioria delas, suas conversas, suas dúvidas e suas teorias me convencem. Consigo até sentir o aroma que a taverna exalava. É realmente uma viagem transcendente. Contudo meus pensamentos me derrubam. Retomo a consciência ainda deitado na cama com o livro fechado sobre minha barriga, subindo e descendo com minha respiração. Em noites de frio como esta nada melhor para um solitário que uma caneca de café bem quente. - Ótima ideia! – exclamo para mim mesmo. Na cozinha coloco a água para ferver. Preparo meticulosamente todos os utensílios. Apenas abro mão do açúcar. Com minha caneca cheia de café liberando uma névoa sensual de fumaça retorno para meu quarto onde resolvo me sentar à mesa e imergir em outro mundo, o virtual. Mundo este que me encanta, me faz passar dias a fio buscando informações e fazendo milhares de outras coisas ao mesmo tempo. Sempre gostei dessa conectividade e a tecnologia me encanta cada vez mais quando descubro novas funcionalidades para aparelhos que são lançados e tornam-se obsoletos tão rápido quanto o por do sol. Esse dia, porém, estava diferente. Algo estava fora do que costumeiramente era rotina. Não que os site não estivessem no ar, os e-mails não chegassem ao seu destino ou as redes sociais estivem mornas. Tudo funcionava perfeitamente. Esse algo que incomodava era em mim, como uma cocheira que a gente não alcança. E se tudo estava tão estranho eu resolvi assumir essa posição. Resolvi experimentar e entrei em um desses chats que milhares de pessoas participam. Nada que acontecia me apetecia. Conversas vazias com pessoas desconhecidas, algumas insuportavelmente chatas, outras completamente loucas, algumas ainda tremendamente inconvenientes. Conversas essas que começavam e terminavam sem nenhum sentido. Embora não fosse tarde já era noite. Já me preparava para desligar o computador, levar minha caneca de café de volta para cozinha e embarcar em um sono tranqüilo que apenas os inocentes podem ter. Faria isso tudo se não fosse surpreendido pelo barulho de uma janela de diálogo subindo crepitante pela tela de meu monitor. Nunce pensei que as coisas passariam a ser tão diferentes depois deste simples fato de olhar através desta janela que se abria...