quarta-feira, 27 de setembro de 2017

Estroços

Escrevo para não explodir. Para não sucumbir. É meu grito silencioso que reverbera dentro de mim. Só em mim. É um terremoto com epicentro localizado pontualmente na parte esquerda do peito com profundidade de cinco a sete centímetros abaixo da placa esterno ligeiramente colocado ao lado da primeira costela. É maremoto. É destruição do equilíbrio. São ondas de desbaratamento que engolem vorazmente o que eu regava com zelo. O que eu nutria era o que me aniquilava. Abalos. Abalo. Rompimento. Cascatas de sucessivos pontos que só restavam ser ligados pela lógica ultra racional que derrama de mim. Eu percebo que são as pequenas ações que revelam as grandiosas verdades. É verdade. É intuição. Era o tempo que falava através dos tiques dos segundos, agora ele não fala mais. Acabou. Aniquilamento total. Há escombros. Partes do meu corpo desligadas por extirpação. Ervas daninhas. Mentiras. Há esperança. Houve. Abalos secundários. Amor. Era uma tentativa de um assentamento tectônico sobre a placa do Pacífico. Era a esperança de encontrar minha Atlântida. Meu amor. Minha sinceridade total. Não há mais respostas. Agora o que tenho é silêncio. Não sei se derivado da grande profundeza que estou, das grandes massas demolidas que estão sobre mim ou da ilusão que crio mesmo em pedaços separados que alguém seja capaz de me encaixar novamente, quem sabe como uma fenda que foi unida por magna resfriado. Se eu acreditei? O tempo todo! Se eu imaginei? Sempre! Se eu amei? Desde o primeiro olhar, quando do meu lugar suspeitei não passar do primeiro olhar. Nos olhamos. Saltos quânticos. Uma pena, pois o passado vivido no presente é corrosão. É insustentável. É deslocamento. É saudade. Fugindo dela corri tanto que minhas pernas doem mesmo desligadas do meu quadril. Essa fissura me jogou nesta ilha. Pequena ilha que eu sonhei ser nossa. Aqui não construo nada apenas chafurdo terreno arenoso. Ainda tenho esperança que aquele meu grito silencioso reverbere até chegar em ti. E que nos encontremos, novamente, aqui nesta ilha, depois daquele nosso alhar novamente se encontrar e fiquemos juntos, novamente, como ficamos sem se importar. Ruídos. Descanso.