sábado, 5 de julho de 2014

Fóvea

Gostaria que alguém me ouvisse quando eu chorando grito, rogo e imploro: Abduza-me! Leve-me para o desconhecido. Se puder ser de forma inesperada e sagaz seria perfeito. Quero ir sem ter que olhar o que deixei pois sei que é tudo insignificante. Estou aqui nesse momento transformado e reduzido a isso com apenas uma certeza que floriu e me usando como exemplo afirma: nossas piores batalhas são contra nós mesmos. E nessas mesmas batalhas enfadonhas fui sendo golpeado por meus algozes que não passam de meu próprio eu, e eles maquiavelicamente foram levando meus membros, meu biológico, meu mental, até atingir o antro áureo de mim e de lá subtrair o que era o mais íntimo eu, o que mais brilhava e me fazia tanger as palavras de uma poesia, voar como uma pena e viver: meus sentimentos. Agora sou apenas isso. Um amontoado de nada. Inexistente. Vazio. Não sei o que me compõe. Oco. Não sou mais capaz de sentir. Silêncio. Não sinto mais a vibração das notas. Amorfo. Não me vejo como algo descritivo. Assim como estou o melhor é simplesmente partir. Será o melhor para mim. Quem sabe lá não seja possível o recomeço. Quem sabe lá eu não possa cuidar de mim, ser acompanhado, cuidado e renascer. Eu não tenho medo de partir. Tenho medo de permanecer. Medo esse que instalado está por conta das lembranças que nunca foram arrolhadas. Aqueles cabelos vermelhos, aqueles sorriso, aquele nariz... Aquele sentimento que era meu e precisaria ser seu mas nunca foi. Aquele amor que estava em mim pronto para ser dividido mas você não quis acolhe-lo. Aquele sonho que eu tinha. Aquela vontade que era minha. E só minha. E aquele maldito dom de pressentir as coisas e que me dizia que eu era um louco. E mais uma vez minhas sensações. Meu lado sensitivo sempre esteve certo. Era um sonho, era o fim que havia sido soprado. Acreditei mais uma vez que poderia. E poderia. A escolha era sua. E não pude. Não posso. Agora apenas olho para a foto de seus cabelos azuis que contornam sua testa e aconchegam-se atrás das suas orelhas que estão logo acima dos seus ombros que foram lugares que um dia sonhei poder descascar minha cabeça pesada de pensar em ti. Aquele seu olhar que está perdido em algum lugar logo acima do firmamento me deixa encantado. Eu sei que há situações imutáveis no que me resta de tempo. Eu sei que talvez o melhor fim seja me desfazer de tudo isso, mas eu também sei que existem lugares que não voltarei novamente nesta vida, lugares como Macau, Meca e seu abraço. E tem ainda os lugares que nunca estarei como a lua, Saturno e em seu coração. Por favor, deixe a vela apagar... Eu preciso ouvir o final que quero escrever...