sábado, 31 de março de 2018

Un peu d'ail

Hoje plantei minhas sementes. Coloquei minhas mãos na terra. Com meus dedos revolvi até o ponto de deixá-la bem aerada. Depois, aos poucos, fui umedecendo. Não com lágrimas, pois há um boato que lágrimas são salgadas e não seriam um começo bom para meus filhotes. Precisei com fé procurar por água rica, límpida como agora são meus sonhos. Encontrei água que ajudará as meninas sementes germinarem. Encontrei uma água justa, como sou agora, apenas água. Me libertei, me misturei. Depois deste evento era possível sentir o cheiro fresco do barro do vaso que abraçava a terra. Há braços que não sentiremos mais. Abraços que dão forçam para que brotemos. O protocolo foi cumprido com sucesso. Agora resta esperar pelo tempo. As meninas garotas estão enterradas, soterradas, solitárias, veladas por um centímetro de terra, como era indicado pelo protocolo. Chegará o dia que também estarei enterrado, soterrado, solitário, velado por um centímetro de terra. Terei também cumprido meu protocolo. Contudo diferente de mim, elas, as gurias pujantes, depois que o senhor tempo passar darão origem a belas novas vidas que podem ser belas folhagens verdes. São hoje o futuro enterrado de uma vida nova enquanto eu serei apenas memória de um dente de alho prateado envolto em uma palma de ouro.