terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Depois do inverno

Quando você passa por um longo e na maioria das vezes tenebroso inverno, passa a ver a vida de uma forma diferente. Passa a sentir, a entender e a pensar de uma maneira ainda não tangida por sua própria imaginação, a mais insana que poderia vislumbrar. Mas agora, depois dos ferimentos do frio, a realidade. Tenho certeza que ainda era verão. Eu sempre passava por aquele mesmo campo cheio de flores silvestres que insistiam em colorir como pixels dos mais variados tons, a imensa relva verde, ora muito escura, ora clara, sendo transformada pelos incidentes raios do sol. Era uma imagem marcante que terminava quando as madeiras começavam a brotar no solo. A ponte. Tão linda. Era parte de mim, insubstituível, um porto de tranquilidade que me fazia caminhar sobre as incertas águas turbulentas do rio límpido que era o senhor absoluto no fim do desfiladeiro. Ela, a minha louvada ponte, era minha companheira, contudo o inverno foi chegando. A temperatura diminuindo em progressão geométrica. Fui percebendo que suas bases estavam sofrendo, suas madeiras rangiam, suas cordas estalavam e sua estabilidade não era a mesma. Eu temia. Intimamente sabia o que esperar no fim, mas nunca deixei de acreditar, trabalhávamos juntos, eu por ela, assim como ela por nós. Mas fui me distanciando. O frio desumano feria minha pele, e ela, estática, só me cobrava reparos que minha limitação humana impedia de oferecer. Dessa forma o inferno gélido chegou. Não poderia agora resistir as intempéries naturais. Parti. Certo de meu destino deixei a ponte. O relógio não parou. O tempo passou. O inverno findou. O tenebroso rei gelo agora não tinha forças, mas deixou suas marcas, como anualmente fazia. Quando voltei a meu lar, a minha ponte não estava mais lá, como previa. Ela não me entendeu. Não reconheceu minhas limitações, minhas necessidades, minha raça e me deixou. Lá estava a relva queimada pelo gelo, meus pixels coloridos ressurgiam, mais ainda não passavam de pontos monocromáticos estampados no campo. Tudo estava igual dentro das modificações. Menos minha ponte. Seu lugar ainda está lá, sempre estará. Guardo as fotos de nossos momentos inesquecíveis e o mais importante, minhas lembranças, pois o que fizemos juntos jamais deixará de existir. Não tenho dúvidas que seguiremos nossas vidas e nossos caminhos, talvez o meu um pouco mais complicado sem você, mas não tenho medo das dificuldades. E se um dia puder-me entender pode voltar, é só me chamar, o seu lugar estará guardando.

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