terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Aplauso

Fecham-se as cortinas. Os holofotes são apagados e o mundo de ilusão que brilhava no meu palco acaba. Não resta mais nada, não sobrou mais ninguém, no meu teatro, na peça da minha vida sou o único que ainda permanece sentado na poltrona tentando assistir o inexistente. Minha vida agora é passado. Tudo que sobrou naquele ambiente mágico agora é a escuridão que causa calafrios, o silêncio que fere os ouvidos. Isso é o que eu chamo de paz caótica. Dentro de mim existem milhares de pensamentos que se misturam. Existem vontades que se multiplicam e existem desejos impossíveis. Naquele tablado de madeira onde agora nada há outrora pude viver alegrias que eram derramada sobre minha platéia que lotava cada espaço só para compartilhar comigo esse sentimento que gruda em cada um e causa sorriso. Pude experimentar o drama e dividi-lo com quem assistia minhas aflições que eram expostas sobre aquele quadrado de madeira. Pude cantar e encantar quem me acompanhava com melodias empolgantes. Ali também pude voar alto, conhecer mágicos, fugir de monstros, saudar rainhas e viver grandes paixões. Quantas pessoas já não choraram comigo com os desencontros amorosos e suspiraram com os beijos apaixonados... Mas como disse, agora tudo é passado. Minha platéia é composta por abandono, por adeus. Nós artistas temos que entender, mesmo que forçadamente, que assim como espetáculos, nossas vidas também terão um fim. E o que diferencia o final de uma apresentação do final da minha vida é que ninguém me aplaudirá quando esta terminar. Sempre foi assim, e não será diferente.

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